sábado, 13 de março de 2010

Rodolfu's

Já faz mais de um mês que trabalho num escritório de adevocacia ali em Blumenau. Apesar de conviver 8 horas por dia com outros 20 devogados que trabalham no mesmo escritório, pouco conheço de suas vidas; não tenho colegas de trabalho. Diariamente, almoço solitariamente na rua XV, eis que nunca sou convidado para almoçar com "a galera". Mas também não me importo, minha aversão/inaptidão ao convívio com os outros seres humanos, impedem-me de qualquer contato que não seja um formal "bom dia" ou "até amanhã".

Sinto-me aliviado quando finalmente soa a sineta das 12 horas, pois pela próxima hora não serei escravizado, posso me sentar despreocupado num banco qualquer da XV e ler um bom livro. Mas antes que possa me esquecer dos prazos e desfrutar da boa leitura, preciso almoçar.

Normalmente almoço sozinho ali no Shopping H, pois lá há um bandeijão em que se pode comer livremente por R$ 8,50, com direito a um suco grátis. E nem se pense em almoçar no buffet do Tio Leco, tamanha a fila no horário compreendido entre as 12:00-13:30.

Mas um dia desses, fazia um calor tão descomunal, que eu não quis me deslocar do alto da XV até o Shopping H, então fui descendo a rua só de baga nos botecos ali na região, pra ver se algum oferecia uma refeição que me atraísse.

Não demorou muito, de longe avistei um estabelecimento defronte ao Teatro Carlos Gomes, intitulado Rodolfu's. Ao lado da estreita escada que levava ao "restaurante", uma discreta placa anunciava: "Buffet Livre + Suco: R$ 5,50".

Resolvi encarar. Não queria gastar muito dinheiro, até por quê, como minha amasia vive reclamando, sou um maldito pão-duro.

Após uns dois lances de escada, entrei por uma porta e me deparei com uma senhora obesa atrás de um balcão. Sem trocarmos uma única palavra, saquei dez reais e dei pra ela.

"Não tens cinquenta centavos trocado", ela perguntou. Fiz que não com a cabeça. Ela me deu duas notas de dois reais como troco e disse alguma coisa que não entendi.

"Ain?", perguntei monossilabicamente. "É só pegar um prato e se servir", ela respondeu asperamente. "Ah, ok."

O buffet era padrão; tinha uns quatro tipos de salada, arroz, feijão, macarrão, polenta, peixe à milanesa e um tipo de carne que não consegui reconhecer.

Quase não havia fila e logo me servi com um pouco de cada coisa. Sentei-me numa mesa na parte externa, numa sacadinha com vista para o jardim do Carlos Gomes e o movimento dos transeuntes lá embaixo. Na mesa ao lado, dois peões suados deglutiam dois gigantescos pratos com nada além de arroz, feijão e carne. Pra ajudar na digestão, bebiam refrigerante de uma garrafa de dois litros de coca-cola.

Enquanto comia minha refeição, fiquei só observando os dois enquanto terminavam seus pratos e conversavam animadamente sobre os gols da rodada. Não pude deixar de notar que, apesar das montanhas de arroz com feijão que acabaram de comer, a garrafa de coca ainda estava pela metade.

Entre reflexões sobre o sentido da vida, dei mais uma garfada do meu prato. Nisso, os dois se levantaram, um deles com a coca na mão. O cara era o típico alemão proletário, loiro e de mãos calejadas por uma vida inteira de prostração ao capital privado.

Dei uma bebericada do meu copo de suca de goiaba. Normalmente não tomo suco de goiaba, mas era isso ou suco de Cajú. Então acabei optando pela goiaba.

Do nada, o alemão colocou a garrafa pela metade na minha mesa, olhou-me assustadoramente nos olhos e disse: "queis uma coquinha, chefe?"

Assenti timidamente com a cabeça. O cara deixou a garrafa ali comigo e foi embora conversando com seu amigo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tomasse a Coca?? Tinha gelo pra acompanhar?? Quem diria que o Sr. anti-social faria parte de um momento desses de integração social e fraternidade....
Muito bom este blog.