Em novembro, antes das fortes chuvas que tingiram as águas transparentes do grande belo Vale do Itajaí, eu tava trabalhando num relato sobre uma recente ida minha à São Paulo. Várias semanas já se passaram desde aqueles dias, mas caso ainda haja interesse, não deixe de ler esse relato que o cara da sessão da tarde chamaria de:
Um gasparense do barulho aprontando altas loucura numa cidade boa pra cachorro!
Confira:
Então, na última terça-feira 18 de novembro, fui lá no Consulado Geral dos Sazunidos tentar obter um novo visto de mão de obra barata do terceiro mundo trabalho. O que eu consegui, mas, ad argumentandum tantum, deixe-me contar a história toda.
Na segunda feira de noite às 19 horas embarquei no buzo ali em Blumenau. Era um daqueles ônibus de sacoleiro, que saem num dia de noite e já voltam no outro dia de noite, popularmente conhecidos como "bate e volta". Veja só, se eu tivesse ido pra São Paulo com aquela empresa que, ao arrepio da Lei, detém o monopólio do transporte coletivo SC-SP, eu teria pago 120 reais pra ir e 120 mangos pra voltar, isso com o ônibus mais furreco. Ali não, paguei 160 pila ida e volta, sacumé? E o ônibus, ao contrário do que você possa estar imaginando, era bom pra caramba, melhor até do que aqueles "daquela outra empresa que não citarei o nome por motivos jurídico-legais"
Felizmente obtive um lugar na janela e, graças ao bom deus, ninguém sentou-se do meu lado.
Mas nem tudo foi só alegria na viagem. No ônibus havia um moderno sistema de DVD que era operado pelo motorista, com três telas de LCD distribuídas equidistantementes ao longo do corredor e, assim que o buzo zarpou, para a felicidade dos demais passageiros, iniciou-se a reprodução de um típico DVD do gênero "corno music" de qualidade duvidosa, protagonizado por uma dupla sertaneja intitulada "Vitor & Leo". Não obstante o gênero musical, o cara da dupla que tocava violão se achava o Jimmi Hendrix caucasiano, o que tornava o espetáculo mais perturbador ainda. Verificado isso, prontamente saquei meu I-pobre e iniciei a execução de uma seleção de músicas de qualidade inegável.
Em dado momento, finalmente a porcaria do DVD acabou, apagaram-se as luzes e a galera foi dormir. Eu até tentei, mas não consegui, na verdade, tenho uma dificuldade tremenda para dormir em viagens de ônibus ou avião. Varei a noite ouvindo música no meu i-pobre, bebendo o refrigerante que estava, gratuitamente, a disposição dos passageiros no frigobar do ônibus e acompanhando o movimento na estrada.
Já no estado de São Paulo, era bizarro assistir ao movimento de caminhões nas estradas ir se avolumando até tal ponto que, próximo à região metropolitana de São Paulo, ficamos algum tempo parados em um engarrafamento de caminhões, isso as 3 horas da manhã. Fato que não tem relevância nenhuma no desenrolar dessa história, mas que achei interessante relatar :)
Era umas 4 horas da manhã quando um dos motoristas, eram dois, veio me acordar. Ao contrário dos outros passageiros, eu não ia pra "feirinha da madrugada", nem pra "25 de março". Conforme eu já havia combinado anteriormente com o motora, eu ia ficar na Estação de Metro São Bento, nas proximidades da Praça do Correio.
Ali pelas 4:20-4:30 da manhã, um rapaz branco do interior de Santa Catarina saltou na frente da estação de metro supramencionada. Apesar de já ser quase de manhã, a escuridão imperava absoluta e uma briza gélida flagelava violentamente meu corpo esquálido. A entrada da estação era margeada pela Praça do Correio e por um viaduto da rua Santa Ifigênia. Dormindo embaixo do viaduto e pela praça podia se contabilizar um número maior de mendigos do que pessoas com escolaridade de nível superior na cidade de Gaspar, num total de pelos menos uns 20 mendigos serenamente adormecidos.
Pra minha surpresa, a estação só abria às 4:40 e eu ia ter que ficar esperando uns 10 minutos a merce do frio fustigante, da noite sinistra e dos bandidos paulistas que, segundo dizem, são mais perversos que os paranaenses.
Além dos mendigos, havia um único cara numa cadeira de roda esperando nas proximidades pela abertura do metro, imagino eu. Na rua em frente, só um ou outro taxi passava rapidamente de vez em quando. Bem próximo das 4:40 um cidadão de aparência inofensiva e de banho tomado, ao contrário das outras pessoas que andam pelas ruas de São Paulo as 4:35 da manhã, colocou-se do meu lado, também esperando pela abertura do metro. Fitei-o desconfiadamente e ele, simpaticamente, disse: "opa". Achei estranho, um estranho cumprimentando outro em São Paulo e isso às 4 horas da manhã, mas mesmo assim respondi timidamente: "opa". O cara então me perguntou, se eu sabia que linha do metro ele tinha que pegar para chegar em lugar x. No que eu respondi simpaticamente: "ah, velho, eu sou de Santa Catarina, não sei nem o que eu tô fazendo aqui, quanto mais que linha de metro tu tem que pegar". O cara achou engraçado e falou: "Santa Catarina é? Eu moro mais ao sul do que tu então" e esboçou mais um sorriso. "És do Rio Grande do Sul?" perguntei, o que era óbvio, mas perguntei mesmo assim. O cara assentiu e começou a me contar que tinha vindo a São Paulo à negócio por um empresa que ele trabalhava no Rio Grande e que tinham dito pra ele pegar um ônibus ali perto, mas que o ônibus nunca veio e que ele ia pegar o metro. Ele tinha bem cara de gaúcho, devia ter uns 40 anos, estatura mediana, uma calvice em estado inicial se alastrando vagarosamente pela cabeça e, é claro, um típico bigodinho gauchesco.
Devo admitir que eu não dava a mínima para o que o cara fazia da vida, mas fiquei prestando atenção e assentindo com a cabeça enquanto ele me contava, pois me pareceu mais seguro ficar ali com ele do que sozinho.
O que fechava a estação era uma grande grade, atrás das grades só se via um interminável corredor, não sendo possível divisar o seu fim. Às 4:40 vi o guardinha vindo lá do fundo da estação para abri-la. Despedi-me do gaúcho e vi ele e o cara de cadeira de rodas entrarem apressados. Eu não tinha pressa, até por que não ia pegar metro nem nada, na realidade eu só estava ali porque tinha combinado de esperar meu brother ali na São Bento que iria me dar um toque quando estivesse chegando. Mas é claro que eu preferia esperar lá dentro, então acabei entrando também.
No interior da estação alguns começaram a formar fila em frente ao guichê para comprar passagens. Outros, com as passagens já em mão se dirigiam diretamente para as catracas. Eu fiquei esperando a ligação do cara perto de dois guardinhas que vigiavam a estação. Ao contrário dos guardinhas que vigiam as coisas em Santa Catarina, normalmente velhos ou obesos, por óbvio incapazes de impor respeito quiça impedir qualquer tipo de delinqüência, os guardinhas daquela estação eram dois caras gigantes assim, e era fácil imaginá-los dando uma surra em mim ou em algum vagabundo que pudesse estar admoestando os usuários do metro. Mas eu não estava incomodando ninguém, eu só tava ali num canto, encostado na parede entre o guichê e as catracas esperando uma ligação.
Na parede oposta ao local aonde eu estava aguardando, havia um mapa gigante dos arredores e dois outros quadros gigantes contendo normas de utilização do metro. Dirige-me, então, a essa parede e fiquei um tempo analisando o mapa que, como eu disse, continha informações sobre atrações turísticas e serviços públicos nas proximidades da Estação São Bento. Ali por perto, segundo o mapa, cito o Mercado Público, a rua 25 de Março e algumas dezenas de Varas da Justiça do Trabalho.
Ato continuo, iniciei uma análise atenta das condutas tidas como ilegais na utilização do metro, longamente relacionadas nos dois quadros ao lado, quase sempre com a devida remissão ao Código Penal ou Lei de Contravenções Penais. Chamou-me a atenção "mendigar ou portar-se de forma que cause repugnância aos demais passageiros", restrição que seria de grande valia nos coletivos da Viação Verde Vale.
Voltei para a parede próxima aos guichês e aguardei mais um pouco. Uma hora a fila para comprar passagem ficou vazia e eu fui lá falar com a mulherzinha do guichê e, só a título de curiosidade, pedi um mapinha do sistema de metro. A mina aproximou a cabeça do vidro e perguntou: "como?". Eu repeti o pedido. "só um?" a moça perguntou. Eu assenti e ela me deu um mapinha. "Tu é do interior?" a guria emendou. Respondi que eu era de Santa Catarina. "Ah, que bacana. Boas compras" ela falou. Agradeci e voltei pra minha parede. A mulher deve ter se perguntando o que um cara branco, do interior de Santa Catarina e de roupa social fazia encostado há duas horas em uma parede. Mas enfim.
Passadas algumas horas, eu comecei a cansar de ficar encostado ali na mesma parede. Lá fora, pude ver que o sol já estava raiando, então resolvi ir lá dar uma olhada e esperar por lá mesmo. Ao contrário da mansidão de quando eu havia chego, as coisas haviam mudado. Uma banquinha ali na Praça do Correio agora estava aberta, quis ir lá dar olhada nos jornais, mas havia uma porção de mendigos acordando ali por perto, então desisti. As calçadas agora estavam repletas de pessoas e diversos carros cruzavam as ruas apressadamente. Na mesma hora meu brother me liga e pergunta se estou na Estação São Bento. Digo que sim, e que estou do lado de fora, nas proximidades do viaduto da rua Santa Ifigênia. "Beleza, já estou chegando ai" ele me diz.
Um mendigo que passava por ali me indaga: "ô, irmãozinho, tem um trocado ai? Nem vai te faze falta. Acabei de acordar, só pra mim tomar um café, irmãozinho". Irmãozinho é a minha pica de óculos, pensei. Mas mesmo assim saquei minha mochila e dei pro cara cinqüenta centavos em moedas de 10 e 5 centavos. O cara agradece e vai em direção aos mendigos que estão perto da banca de revista. Conforme ele vai se afastando, posso então ver que ele, apesar de banguela, não tem a menor pinta de mendigo. O cara, inclusive, tava usando uma jaqueta da adidas, que mesmo não sendo original, estava limpa, levando-me a crer que o cara nem dormia na rua. "Pseudo-mendigo filho-da-puta" pensei comigo mesmo. O pseudo-mendigo trocou umas palavras com os mendigos de verdade e foi se embora com meus 50 centavos.
Fiquei observando o trânsito de pessoas e carros. E lá ao longe vejo o pseudo-mendigo voltando, indo em direção aos mendigos de verdade. Agora ele estava fumando um cigarro, segurando uma carteira de cigarros com uma das mãos. No mínimo o pseudo-mendigo usou meu dinheiro para comprar uma porcaria de carteira de cigarros. "Bons tempo em que mendigos usavam nosso dinheiro só para comprar cachaça" pensei para comigo. Nesse instante vejo se aproximando um carro que passa por mim e dá uma buzinadinha. Era meu brother. Ele para num ponto de ônibus próximo e eu embarco. Junto com ele estava um outro cara, o Ednaldo.
Só abrindo um parenteses, no ano passado, quando eu fui tirar o visto para ir trabalhar na Disney, quem me levou no Consulado aqui em São Paulo foi só o Ednaldo. Junto comigo, tinha uma daquelas gurias que acham o máximo ir para os Estados Unidos. Depois que ambos saimos do consulado de posse de nossos vistos, eu, a guria e o Ednaldo fomos tomar um cafezinho numa padaria bem próxima dali. Como é típico dessas pessoas que acham o máximo ir para Estados Unidos, a guria começou a falar, sem que ninguém pedisse, sobre suas maravilhosas experiências passadas nos EUA. Quando a mina finalmente calou a boca, Ednaldo perspicazmente falou "olha, eu não pago pau pra americano não". Sábio Ednaldo. Fecha parenteses.
Mas enfim, após uns 30 minutos, meu brother e Ednaldo chegaram no Consulado. Pediram-me que ligasse quando eu tivesse sido liberado, pois não poderiam esperar, já que tinham uns negócios para resolver. Disse que não havia problema algum. Saltei do carro, agradeci, despedi-me e eles partiram.
Já era quase 8 horas da manhã. Na porta do consulado haviam duas filas: uma grande do pessoal que tinha entrevista marcada até as 10 horas e outra menor que era pro pessoal que tinha entrevista marcada das 10 horas em diante. Entrei na segunda fila. Fiquei ali de bobeira esperando e prestando atenção nas conversas de um grupinho que estava na minha frente e de outro grupinho que estava atrás de mim na fila. Conversavam sobre como era o máximo ir para os Estados Unidos e como lavar pratos nos Estados Unidos não era uma prática indigna, ao contrário do Brasil, onde tal tarefa é relegada aos indivíduos oriundos dos estratos mais baixos da sociedade. Maldita juventude burguesa.
Conforme a fila ia crescendo, uma hora passou um individuo entregando cartõezinhos de uma agência de viagens que ficava do outro lado da rua. Quando passou por mim, o sujeito entregou seu cartãozinho e falou: "mermão, não queis deixar tua mochilha no nosso guarda-volumes? Eles não deixam entrar de mochila não". "Não, obrigado", respondi. Por certo o cara ia querer me cobrar 20 reais pra deixa a mochila no guarda-volumes dele. De qualquer forma, achei essa notícia perturbadora. Se de fato eu não pudesse entrar com a minha mochila, eu tava ferrado, ia ter que atrás do cara, pagar 20 reais e perder meu lugar na fila que, a essas horas, já tava gigante. Perguntei, então, pro cara na minha frente que também estava de mochila se, de fato, não era possível entrar de mochila. "Não sei", ele disse, "mas as mulheres tão podendo entrar de bolsa", ele complementou.
Quando todo mundo da outra fila já tinha entrado e finalmente abriram as porteiras pra minha fila entrar, o guardinha só pediu pra revistar minha mochila e me liberou. Felizmente eu não tinha caído no golpe daquele cara do guarda-volumes. Agora, já "dentro da parte externa do consulado", peguei uma segunda fila, maior ainda que a primeira. Nela, passou um funcionário do consulado de sexualidade duvidosa e com luzes no cabelo. Ele botou meu formulários na ordem e grampeou-os. Em seguida, passa uma outra funcionária do consulado. Essa, muito menos simpática que o viadinho, risca todos os campos do formulário que, segundo ela, eu havia preenchido errado e manda eu consertar. "Galega filha-duma-puta", penso para comigo mesmo. Arrumo a caneta os campos supostamente preenchidos errados. Chego no final dessa fila e uma guria confere novamente meus formulários para ver se esta tudo certo. "Tu esqueceu de assinar e datar". Assino e dato a porra do formulário. A guria manda eu entrar.
Agora estou numa ante sala, com vários guardinhas e um equipamento de raio-x. Um guardinha atrás do balcão pergunta se eu tenho algum equipamento eletrônico dentro da mochila. Digo que sim. Ele manda eu tirá-los e dá-los para ele. Tiro um i-podre, um celular e uma câmera digital e dou pro cara. Ao pegar meus eletrônicos o cara pergunta: "Pô, eis profissional" se referindo a minha câmera. Digo que não. "Pô, tens uma câmera doida dessa só de boa?". Digo que sim, ele emite uns grunhidos inteligivelmente e me dá uma senha pra retirar meus eletrônicos na saída. Enquanto isso, um outro guardinha passa minha mochila no raio-x. Liberam-me e me mandam seguir a faixa amarela. Saio da ante sala e começo a seguir uma faixa amarela no chão. Para minha infelicidade, a maldita faixa amarela me leva pra mais uma fila, a terceira, maior do que a primeira e a segunda somadas.
Conforme vou chegando ao final da fila, isso depois de mais de uma hora, descubro que essa fila é só para pegar uma senha e, só dai então, iniciar meu atendimento. Recebo a senha de número 8143.
Agora não tem mais fila. Tenho só que ficar de olho no telão e esperar minha senha ser chamada. Esse local fica dentro das dependências do consulado, mas é ao ar livre mesmo. Sob nossas cabeças, só um frágil telhado de eternit. Só há parede em um lado e nessa parede há uns 16 guiches. Sendo que, para obter o visto, tu precisa passar por cinco guiches diferentes. Um intitulado de "pré-entrevista", um pra pagar mais uma taxa, um para escanearem teu rabo, digo, teus dedos, um onde rola a entrevista de verdade e outro pra pagar mais outra taxa. O problema é que, com exceção dos dois guichês de pagamento de taxa, em todos os outros demora mais de uma hora para chamarem a tua senha. Um verdadeiro disparate.
Mas enfim, passadas quase quatro horas, finalmente cheguei no guichê da entrevista. A mulher perguntou em "ingreis" que faculdade eu fazia, pra onde eu ia nos Estado Unidos e o que que meus pais faziam. Respondi as perguntas, a mulher deu umas batucadas no teclado e sentenciou: "Ok, seu visto foi aprovado. Boa viagem.". Agradeci, despedi-me, paguei uma última taxa e sai do consulado. Era exatamente meio-dia.
Já do lado de fora, liguei pro meu brother e disse que eu havia sido liberado. "Beleza, mas não posso ir te buscar agora, vai ali no Shopping Morumbi e fica matando um tempo por lá, que mais pro final do dia vou ali te buscar" ele me disse. "Sem neura", respondi. Eu sabia que, de fato, o Shopping Morumbi ficava ali perto, então perguntei prum carinha que cuidava dum estacionamento ali perto "como faço pra chegar no Shopping Morumbi?". "Entra na primeira rua a direita e na terceira rua a esquerda".
Fiz isso, cheguei no Shopping Morumbi. Ele era gigante. Maior do que qualquer outro shopping que eu já tenha ido antes. Almocei numa das praças de alimentação. Sério. O Shopping tinha três praças de alimentação. Duas de pobre e uma de restaurantes granfinos. Almocei numa das de pobre mesmo.
Tinha umas lojas bem legais lá, "inscrusive" uma FNAC e uma Saraiva "super-hiper-mega-store". O legal das lojas de eletrônicos lá é que as coisas ficam assim nuns balcões e tu pode mexer neles e tudo, inclusive nos computadores. Dava até pra jogar nuns X-Box 360 e Nintendos Wii que estavam a venda. Bem doido. Infelizmente não tinha dinheiro para adquirir nenhum dos dois. Mas basicamente fiquei fazendo isso durante umas 3 horas, mantando tempo ali no Shopping, mexendo em eletrônicos intangíveis para mim.
Depois de algumas horas meu brother e Ednaldo vieram me buscar. Eram umas 16 horas, sendo que meu busão saia da Estação Turística do Treme-Treme às 17:30 horas. Externei minha preocupação de que não chegaríamos a tempo, mas Ednaldo me tranqüilizou, dizendo que tínhamos tempo ainda. Respirei aliviado. Todavia, um pouco mais pra frente, o trânsito que até então estava tranquilo, transformou-se num mar de carros. Paramos e para todos os lados que se olhava, viam-se carros. Sério. Deviamos estar numa rua com 5 faixas, margeada por outras ruas de cinco faixas, e sob nossas cabeças, viadutos de cinco faixas. E todas as faixas estavam repletas de carros parados. Preocupado, meu brother falou: "e agora, Ednaldo?". Meu brother também não era de São Paulo, mas felizmente uma ida sua à São Paulo coincidiu com a minha. Ednaldo, por sua vez, morava a anos na capital paulista. "Que horas teu ônibus sai mesmo?", Ednaldo perguntou. "Cinco e meia", respondi. "Então é melhor tu começar a rezar", Ednaldo sentenciou.
Por alguma graça divina, era só aquele trecho que estava congestionado, em seguida, então, pudemos seguir a toda velocidade em direção ao Treme-Treme.
Do outro lado da rua do Treme-Treme, local onde eu iria pegar meu ônibus de volta pra Gaspar, ficava o Mercado Público. Essa rua devia ter umas dez faixas. Ao contrário de Gaspar, em São Paulo todas as ruas tem pelo menos cinco faixas e se você olhar pra cima, com certeza vai ver um viaduto de, pelo menos, cinco faixas.
Mas, enfim, meu brother estacionou o carro ali no Mercado Público mesmo. Era umas 17 horas. Segundo Ednaldo, antes de eu ir embora, eu tinha que provar um pastel de bacalhau que era comercializado nas dependências do Mercado Público. Eu disse que não estava com fome, na verdade eu só queria correr e embarcar no meu ônibus, que eu já tinha avistado do outro lado da rua. Sou meio neurótico com essas coisas, mesmo ainda tendo meia hora, eu tinha certeza de que, caso eu não entrasse no ônibus agora, ele iria embora e me deixar ali. Ednaldo insistiu, disse até que pagava. Acabei cedendo, entramos e comemos o famigerado pastel de bacalhau, do qual Ednaldo tanto falava. Era bom, não me lembro de já ter comido algum pastel de bacalhau. Quando finalmente acabei de comer, olhei no relógio, eram 17:20, o pastel era gigantesco.
Alarmado com o horário, agradeci e me despedi apressadamente. Como um louco, atravessei a rua de dez faixas. Não bastasse isso, a pista ainda era dividida por um riozinho sujo.
Essa estação é conhecida como Estação do Treme-Treme, pois ela fica do lado de um edifício denominado Treme-Treme, que é uma prédio abandonado gigantesco, habitado apenas por mendigos e putas, segundo Ednaldo, e que a prefeitura de São Paulo quer demolir, mas os mendigo e putas não querem deixar. Mas, enfim, embarquei no ônibus e voltei pra Gaspar.
Fim.
PS: Eu tirei uma porção de fotos nessa viagem, pois pretendia ilustrar esse relato com elas e tornar a parada mais "lúdica". Inocentemente, então, baixei elas para o meu pobrebook e deletei-as de minha câmera. Todavia, mal sabia eu das fortes chuvas que assolariam a região e viriam a submergir meu notebook em uma grossa camada de lama. Pau na minha "ponba"®, entende?
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
O Gasparense vs. Mega Metropole Paulista - Cap 1
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2 comentários:
Tu vais voltar para terra da liberdade meu brother? Aonde vais dessa vez?
RE: Mason, Ohio
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