Alcoólicos anônimos em Gaspar

No fim de todos os dias úteis, encerradas minhas atividades laborais no Ergastulum blumenauense, meu ritual diário consiste em pegar um ônibus até o Terminal da Fonte, e, lá chegando, pegar um ônibus com destino ao perigoso bairro Bela Vista.

Há um ônibus que sai do Terminal da Fonte, com destino ao Bela, às 19 horas em ponto. A merda é que eu sempre chego no Terminal às 19:01, razão pela qual sempre acabo tendo que esperar pelo ônibus de 19:15.

Mas enfim, todos os dias, tem um velho que pega esse mesmo ônibus de 19:15, com destino ao Bela. Velho maldito, sempre fumando uma merda de palheiro catinguento do meu lado, enquanto espera o busão. Isso sem contar a cantiga emanada pelo próprio velho e a cara de quem está "a mil pelo Brasil", em função do abuso de substância etílicas. Não satisfeito, o velho ainda é mó mal humorado e fica admoestando os demais passageiros.

Então, para minha surpresa, hoje ao chegar no Ergastulum, lá estava ele algemado, sentado num canto. O odor de cachaça azeda rapidamente tomava conta do ambiente.

Pra ti ter uma idéia, os Agentes Prisionais já haviam apelidado o cara de "cheiroso".

"Velho, filho-da-puta", pensei. Sério, eu odeio esse cara desde a primeira vez que ele acendeu, a revelia da lei, um palheiro do meu lado.

Curioso, perguntei a um Agente Prisional qual o crime que era imputado ao velho cachaceiro.

"Ele foi pego tentando furtar uma linguiça em uma padaria", o cara me respondeu.

Caralho, tentativa de furto de linguiça é demais. Deve ser a única coisa pior do que ser um ladrão de galinha. "A justiça nesse pais é uma piada mesmo", conclui.

Mas minha raiva contra esse velho era tanta, que coloquei de lado minhas ideologias, notadamente àquelas relativas ao funcionamento seletivo do sistema prisional brasileiro, e por alguns minutos agradeci, silenciosamente, aos policiais e ao delegado que haviam colocado esse cidadão atrás das grades, pois, a partir de hoje, finalmente poderei respirar ar puro dentro do ônibus 507 das 19:15.