segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Causo do Diabo da Tanzânia

copa do mundo seleção brasileiraA Copa do Mundo, aquele evento cujo único propósito é incentivar as pessoas a comprar mais tênis da Nike e a beber mais refrigerante, tem um poder de pasteurização incrível sobre as mentes brasileiras.

A alienação é tamanha, que a única preocupação nas próximas semanas será os resultados de jogos de futebol; é declarada a III Guerra Mundial? Um mega terremoto engole a Austrália? A NASA noticia que um meteoro do tamanho de Júpiter esta em rota de colisão com a Terra? - nada disso conseguiria distrair a atenção dispensada pelos brasileiros à Copa do Mundo. Isso sem contar que, do dia para noite, todos se transformam em fervorosos nacionalistas, como se cultuar um time de futebol fosse o mais sublime ato patriótico. E ai daquele que ousar discordar, ou simplesmente não se importar, pois a execração pública o espera; populares raivosos estuprarão sua esposa e atearão fogo em sua residência a bem da Nação Brasileira.

Por óbvio, coisa diferente não se vê na pequenina cidadezinha de Pequena Isla.

Inclusive, parece que esses dias houve um amistoso entre o Brasil e a Tanzânia. E é claro que, no dia do jogo, referido amistoso monopolizou todas as conversas de todos os habitantes do municipiozinho catarinense em que exerço meu húmus público.

Dito isso, gostaria de relatar um dialogo por mim presenciado aqui mesmo no Paço Municipal de Pequena Isla.

Antes, algumas considerações introdutórias para que o leitor possa compreender o contexto em que se deu o causo: como já exposto aqui anteriormente, funcionários públicos são tarados por café e costumam ter bastante tempo "disponível", assim, como há uma jarra de café na sala onde trabalho, todos os servidores do executivo municipal lá se reúnem para tomar café e papear sobre banalidades. Ah, e o jogo, como também já dito, foi entre o Brasil e a Tanzânia, que é um país localizado na África e que abriga o famoso Monte Kilimanjaro, pico mais alto daquele continente.
elefante Elephant monte Kilimanjaro tanzania africaEntão, naquele dia em que rolou o amistoso mencionado, eu estava sentado na minha estação de trabalho, enquanto que, ao lado, umas 7 pessoas bebiam café e conversavam animadamente. Alheio a isso, baixei a cabeça e tentei me concentrar na tarefa que estava realizando.

Em dado momento, uma frase me tirou do transe:

- Meu, vocês viram o jogo de hoje?! - indagou uma servidora municipal aos seus interlocutores. Todos assentiram e passaram a tecer elucubrações técnico-filosóficas sobre o desempenho do time brasileiro e suas chances no mundial. A conclusão é claro, foi a de que a Seleção Brasileira é o melhor time ever, e que o poder público deveria erigir templos em sua homenagem. Eu, por minha vez, permaneci em silêncio, pois não vi o jogo nem entendo picas de futebol, e se tal fato viesse ao conhecimento de meus colegas, por certo minha sexualidade seria posta em xeque.
tanzania africa
- Meu, vocês lembram do Taz-mania? - perguntou mais uma vez a servidora.

- Taz-mania?

- É, aquele personagem de desenho animado, que mora na Tanzânia, o Diabo da Taz-mania!

- Ah, tá, é verdade! - respondeu o grupo em uníssono, que passou a exaltar o saudoso e divertido personagem da televisão.

Eu pensei em intervir, e dizer algo do tipo: "Questão de ordem, caros colegas. Eu jurei para mim mesmo que não interviria nesta conversa, no entanto, a absurda afirmação de que o Taz-mania possui qualquer relação com a Tanzânia merece uma manifestação ex officio. Ressalto que o Taz-mania é inspirado no Diabo da Tasmânia, um marsupial carnívoro que só é encontrado na Tasmania, uma ilha pertencente à Austrália, na Oceania, não possuindo nenhuma relação com o país africano da Tanzânia. Quem sabe vocês devessem beber menos café e estudar mais geografia. Obrigado, porra."

No entanto, sabendo que essas palavras cairiam em ouvidos surdos, e que eu corria o risco de ser denunciado ao Ministério da Justiça como traidor da nação, correndo, inclusive, o risco de ter que buscar asilo político na Tanzânia, resolvi me quedar inerte e reentrar no transe hipnótico do trabalho burocrático.

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