Enquanto amante do ócio e da boa via, desde meu glorioso retorno ao Brasil, em meados de março, com a carteira recheada de dolares fresquinhos pude desfrutar das maravilhas do litoral catarinense, de magníficos banquetes e festas de vultosa opulência, sempre, é claro, cercado de inúmeras mulheres em trajes de banho.
No entanto, aos poucos meus valiosos dolares foram se esvaindo, as refeições foram ficando cada vez mais mirradas, as festas cada vez menos freqüentes e as mulheres em trajes de banho, assim como o verão, foram embora sem dizer adeus.
Desta forma, fui obrigado a encontrar nova atividade remunerada, a fim de manter o estilo de vida bon vivant, estilo de vida sob o qual tenho vivido desde a mais tenra idade.
Todavia, tal situação me colocou diante de um dilema: Quem sabe posso voltar a laborar no Fórum da Comarca de Witmarsum? Pouco provável. Depois de 40 anos como escravo do judiciário da Santa & Bela, qualquer vontade de trabalhar em Fórum de (in)Justiça foi pro barro. Quem sabe, então, ir trabalhar em um pomposo escritório de advocacia, juntamente com os piores espécimes do curso de Direito? Não, obrigado. Conviver, em sala de aula, quatro horas por dia com esses idiotas já é o suficiente para mim. Quem sabe, talvez, ir atuar em filmes de conjunção carnal simulada, tal qual Kid Bengala e Carlos Bazuca. Infelizmente a mãe natureza e a genética não me propiciaram as ferramentas necessárias para exercer tal ofício com maestria. Restou-me, assim, aceitar uma super proposta maneira de ir trabalhar no Blesydiu Hejionau de Prumenal!
Não é uma parada glamourosa como trabalhar junto a nobreza do judiciário ou com advogados cheios de pose, em ambientes aveludados e climatizados. Na cadeia o bagulhos é punk, mermão, mas é legal. Minha função, em apertada síntese, é fazer as vezes de advogado dos presos que não dispõe de recursos financeiros para contratar um desses advogados bacanas, desses que usam gravatas vermelhas com detalhes em relevo e dirigem carros importados.
Mais especificamente, eu fico fazendo os pedidos de progressão de regime, saídas temporárias, livramento condicional, entre outras paradas do tipo para os presos.
Um dos poucos aspectos lamentáveis ali no Blesydiu de Prumenal, é verificar, in loco, o total descaso por parte do governo estadual, a quem incumbe manter a parada. Veja que o blesydiu tem 180 vagas e, pasmem, quase 800 presos! Fora isso, só há 400 camas no ergastulo inteiro. E a galera que lá trabalha, tava me contando que esses dias acabou o papel A4, ou seja, nem as petições pros presos deu pra fazer por um tempo.
É claro que o suprimento de cachaça e água mineral para nosso Governador Jabba The Hut Pudim-de-Cana nunca é interrompido. Mas enfim, quem se importa...
Só o sinistro de trabalhar lá, é que as vezes rola uns negócio do mal. Por exemplo: Antes de ontem um cara de Pomerode conseguiu fugir e, ontem, os agentes carcerários acharam numa cela três celulares e um tijolo de erva "cidreira". E nesse mesmo dia, eles também descobriram que os presos estavam armazenando água e comida nas paredes. Segundo o pessoal do blesydiu, isso significa que eles estão planejando, en preve, uma rebelião. Já que, quando rola rebelião, a primeira coisa que se corta é a água e a comida dos presos. Sinistro.
Mas, como eu disse, é bacana trabalhar lá, e, caso eu fique sabendo de mais algum bagulho quente, compartilharei com meus caros leitores...
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Cara sinistro da zona sul
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Um comentário:
Faça uso do adágio mais importante ao final de qualquer peticionamento: INJUSTÇA! INJUSTÇA! INJUSTIÇA! Garanto que ficarás "faixa" dos "trutas"...
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