terça-feira, 28 de setembro de 2010

O causo do hotel em Caxias (tomo I)

Antes de se abordar os aterrorizantes acontecimentos presenciados por mim e Tonho no quarto de n. 3 de um certo hotel no centro de Caxias do Sul, faz-se necessário algumas notas introdutórias:

Tudo começou em meados de julho, quando meu colega Tonho, companheiro de concursos, noticiou euforicamente: "meu, abriu concurso para Oficial Escrevente do TJRS! Tais afim de encarar uma viagem até o longínquo Rio Grande?"

De início, não fiquei muito empolgado. Eu já prestei uma porção de concursos, mas sempre aqui na nossa região; no máximo, fui até Florianópolis e Joinville. Eu até gosto de viajar de carro, mas 6 horas de viagem é deverás sugado. No entanto, confrontado com o fato de que mais de 500 vagas seriam providas por meio do concurso em comento, pareceu-me que a interminável viagem poderia valer a pena. Ademais, Tonho se valeu do argumento de que todas as mulheres gauchas eram parecidíssimas com a Gisele Bündchen e de que haveria uma escassez de homens heterossexuais naquele estado, fatos esses que, segundo ele, teriam sido auferidos por diversos "especialistas" da revista Veja, o que acabou me convencendo de vez.

De qualquer sorte, mesmo que a fama das mulheres gauchas não se confirmasse, ao menos essa seria minha chance de, finalmente, me mudar para um lugar a mais de 400km daquela cidade onde o valor de um homem é medido pelo seu sobrenome e onde só se é notado por meio da ostentação desmedida - Gayspar.

Paga a taxa de inscrição, eu e Tonho iniciamos o planejamento logístico de nossa empreitada. A prova se realizaria às 9 horas dum domingo, então acordamos que sairíamos no sábado de manhã. Desta forma, chegaríamos no sábado a tarde, nos hospedaríamos em um hotel barato ou albergue, dormiríamos, faríamos a prova e regressaríamos, incontinenti, ao glorioso estado de Santa Catarina. Esse era o plano.

Tendo sido encarregado dessa missão, nos dias que antecederam nossa partida, Tonho achou uns hoteizinhos bem baratos na região central de Caxias, a maioria nas proximidades do nosso local de prova, o Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza. Optamos pelo mais barato, 24 pratas per capita, por um quarto com duas camas e banheiro, até por quê, só queríamos um lugar sem frescura e tranquilo para dormir. Ademais, apesar da inconsistência entre o preço (barato) e a localização (Centro), pelo site do hotel, nos pareceu um estabelecimento simples e recatado, porém limpo e confortável.

Chegado o fatídico dia, 25 de setembro de 2010, às 9 horas em ponto, caímos na estrada. 6 extenuantes horas depois, com a lombar extremamente dolorida, saímos da BR-116 e adentramos a Avenida Júlio de Castilhos, principal via de Caxias do Sul. Devo mencionar aqui a invejável infra-estrutura viária de Caxias do Sul, principalmente quando comparada a total ausência de qualquer tipo de estrutura e planejamento viário de Blumenau e Gaspar.

Enfim, ainda na Júlio de Castilhos, que corta toda a cidade, na altura da Praça Dante Alighieri - veja que, em Caxias, batizou-se a principal praça da cidade com o nome de um clássico escritor italiano, coisa inimaginável em Santa Catarina, estado onde o hábito da leitura é visto com desprezo e escárnio pela patuléia, que a considera um passatempo de nerds e derrotados (desculpem o pleonasmo) - convergimos à direita e, eventualmente, acabamos chegado ao estacionamento conveniado ao nosso hotel.

Era um prédio só de estacionamento gigantesco - outra coisa inexistente em Blumenau: prédios de estacionamento no Centro -, a mocinha responsável nos mandou estacionar no 5º andar. Assim procedemos. Regressamos ao térreo, eu e Tonho, e perguntamos a mocinha como chegar ao nosso hotel.

Não puder deixar de reparar na cara que a guria fez quando pronunciei o nome do hotel - como se o estabelecimento que estávamos procurando não fosse o mais apropriado para dois rapazes do interior de Santa Catarina -, mas na hora não entendi o porquê.

Continua...

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