sábado, 4 de abril de 2009

Professor Mirabolante Reloaded


Esses dias eu tava de bobeira lá na Faculdade URBanizadora, acompanhado de minha amásia Srta. K.M. e de meu colega Roxo-Grande. Conversávamos distraidamente sobre o caráter dicotômico da natureza jurídica do direito do trabalho. Foi quando eu o vi, assim, meio de relance, vindo pelo corredor.

Era o Professor Mirabolante! Como eu estava de bobeira mesmo, falei pra Srta. K.M. e Roxo-Grande: "caralho, eu tenho que entrar de penetra e assistir uma aula do professor mirabolante". Srta. K.M. me repreendeu, disse que isso era uma sandice, que eu poderia ser pego. Roxo-Grande desejou que eu fosse flagrado e desmascarado pelo professor na frente de toda a turma. Mesmo assim, não hesitei. Era uma chance única de conseguir mais umas pérolas do Professor Mirabolante, uma das séries de maior sucesso deste blog.

Corri e fui olhar aonde ele ia dar a próxima aula. Um pouco antes das 20:30, me dirigi a uma pequenina sala do 4º semestre no bloco G. Sentei-me no meio daqueles garotos me sentido um ancião. Olhando aqueles rostos, lembrei-me dos meus tempos de 4º semestre, quando eu ainda era um jovem cheio de sonhos e ideais, eu tinha toda uma vida pela frente. Atualmente, no 11º semestre, tornei-me um velho amargurado e desgostoso com a vida.

Mas enfim, a aula deveria começar às 20:30. Professor Mirabolante chegou em sala às dez para as nove. Ele entrou, cumprimentou a todo, fez a chamada e iniciou uma explanação sobre "jornada de trabalho".

Eis aqui as pérolas que consegui extrair de seus ensinamentos naquele dia:

- Eu posso afirmar, com certeza, que o direito do trabalho e o direito processual do trabalho abarcam todos os outros ramos do direito, sem exceções. Não há exceções.

- Guria X perguntou algo sobre o princípio do "livre convencimento do juiz". "É um princípio terrível!", declarou enfaticamente Professor Mirabolante.

- Se você quiser lembrar ou anotar isso, talvez seja interessante. Eu já vi muito acadêmico não passar na segunda fase da prova da OAB, quando a questão era "Disserte sobre o caráter normativo do direito do trabalho". E ai é: ou estudou ou não estudou.

- Guria X lê um conceito doutrinário sobre determinado instituto do direito do trabalho. "Não é tão fácil assim tentar entender o que ele está tentando dizer", afirmou Professor Mirabolante.

- Quem quiser ver um principio que protege os trabalhadores agora, abra sua CLT no artigo X!

- Se você quer ser um advogado trabalhista, ou você entra na arena preparado ou já entra nocauteado.

- Esse principio eu vou explicar a exaustão amanhã.

- Quem tem notebook e toda a parafernália eletrônica pode trazer amanhã.

- Gente, no final do semestre você vai ter toda a matéria de direito processual do trabalho que eu vou distribuir em PDF. Manda encadernar que você vai precisar!

- Bolo com coca diet (pausa) É O MÁXIMO!

- Tá no inciso treze. O treze é aquele do xis com três coisinhas (XIII).

- "Guria X, o que é revogação?", perguntou Professor Mirabolante. "Ah, revogação é quando você tira o poder de um advogado", respondeu guria X. (Não é uma pérola do Professor Mirabolante, mas sim de uma aluna dele).

- Alguns autores utilizam a expressão "revogação tácita", mas eu não gosto, é muito esquisitinha, muito cheia de coisinha.

- Hoje nós vamos encerrar a aula as nove horas, quarenta e três minutos e cinqüenta e seis segundos. É possível?

- Foi a única matéria que eu quase reprovei em toda a minha existência: desenho.

- Tem vários bancários que eu conheço que dão uma escapadinha, dão uma saidinha e vão comer um X-Mico. "X-Mico?", uma aluna pergunta. Ninguém aqui conhece X-Mico? É pão com banana, gente. É comida de estudante.

- Quando eu movo uma ação trabalhista contra uma empresa, eu pleiteio minuto por minuto. Não é uma boa?

- Isso é fraude, falsidade ideológica, dá demissão por justa causa. Eu já mandei vários embora por causa disso.

- (...) e você acha que os advogados trabalhistas vivem do que? Eles vivem disso!

- (...) mas a empresa pode proibir o funcionário de fazer hora extra. Eu proíbo!

- Eu me meti numa confusão, por que eu impugnei o sistema de cartão ponto do Bradesco. E fomos para perícia provar que o sistema de controle de ponto do Bradesco é fraudulento. Meu cliente levou todas as horas extras.

- Quem aqui conhece Pitanga? Fica logo ali do lado do Bailão Cabeleira.

- (...) aquela do vestidinho trabalhava no Wiskeria Amor Eterno. Quem já foi pra Brusque, já passou na frente da Wiskeria Amor Eterno.

- Tempo parcial do artigo 58 eu vou pular. Isso é uma lei que não pegou.

- Grifem o artigo 59 inteirinho, todos os seus parágrafos e incisos. Botem quatro flechas vermelhas cintilantes e depois faça uma estrelinha do lado. Esse artigo precisa ser memorizado.

- Acordo Coletivo de Âmbito Nacional. É chique isso. Anotem pra depois não dizer que eu não falei, gurizada.

- Vou lhe dar um terço e meio de um ponto por isso.

- Vocês já viram como fica o pulmão de um professor com pneumoconiose? Fica engessado.

- Isso é realidade, gente. Não é ficção jurídica.

- Eu estive num congresso em São Paulo onde o único sujeito que defendia a mesma tese que eu, era meu falecido amigo Valentin Carrion. Desde que ele morreu, ainda não conheci outro que também defenda essa tese. (Valentin Carrion é um falecido, mas muito famoso doutrinador do direito do trabalho, um dos mais famosos, eu diria. Professor Mirabolante, por sua vez, insiste em dizer que era amigo dele. É a mesma coisa que um professor do curso de ciências da computação da F-URB dizer que é amigo do Linus Torvalds.)

- Isso aqui abarca o universo, milhares de pessoas.

- Se fosse pra ficar aqui só lendo a CLT, eu ficava em casa com meu Playstation 3. "Ah, que chique, professor", uma aluna diz. E nem é por causa dos jogos, mas sim por causa dos filmes. Filme em Blu-Ray é outra coisa.

- Eu escrevi um artigo sobre isso que foi publicado no pais inteiro. Só eu e o Valentin Carrion defendíamos essa tese. Era eu e o Valentin no meio de 500. O Valentin morreu e só ficou eu.

- Muitas vezes saio as 2, 3 horas da manhã do meu escritório.

- Final-de-semana passado foi o sexto final-de-semana seguido em que eu trabalhei no sábado e no domingo.

- No que eu me formei, eu já comecei a advogar. E eu me formei com 22 anos. (...), quando eu atendi meu primeiro cliente ele falou "o senhor é advogado? Mas como o senhor é novo". Eu fui um bom acadêmico.

3 comentários:

Anônimo disse...

exitei ou hesitei?

Robaco disse...

Bem observado. Obrigado.

Nêgo (sic) Branco disse...

Acho que a Furb poderia efetuar uma troca de sua designação para Universidade R.R Cruz...
Nada mais justo do que homenagear a maior mente jurídica trabalhista de todos os tempos...