sábado, 27 de fevereiro de 2010

L'Ilhota c'est moi

jeremy pearl jamApós um rigoroso inverno, soem as trombetas pelos quatro cantos do mundo, eis que é chegada a primavera.

Segundo resultado preliminar do concurso público realizado pela Prefeitura Municipal da Galhota, aquele mesmo que prestei há algumas semanas, sagrei-me segundo colocado entre os quase quatrocentos inscritos para a sonhada tetinha no Poder Executivo daquela cidade.

Não quero comemorar antes do tempo, mas, segundo entendimento consolidado da Supreme Court of Justice Luso-Tupi-Guarani, a investidura é medida que se impõe para aqueles que se classificam dentro do número de vagas previstas no edital do concurso. Desta forma, como no edital constavam oito vagas, e eu alcancei a disputadissima segunda colocação, já estou abrigado sob o cálido e confortável manto do direito adquirido. Podendo, inclusive, caso não seja chamado, fazer uso dos chamados "remédios constitucionais", um rol de ações judiciais cuja finalidade é a efetivação dos direitos e garantias fundamentais. Neste caso, o "remédio" mais indicado, na minha opinião de adevogado, é o “habeas vagas", também conhecido no direito anglo-saxônico como "writ asshole".
Johann Wolfgang von Goethe
Pela primeira vez, fez-se justiça com a minha pessoa. As pequeninas mentes suburbanas, anestesiadas pela rotina cotidiana e episódios do Big Bosta Brasil, sucumbiram ante meu intelecto privilegiado. Anos estudando as obras de Sigmund Freud, Johann Wolfgang von Goethe, Søren Kierkegaard, Johann Paul Friedrich Richter e Bruna Surfistinha, enquanto todos os outros passavam suas horas livres vendo Caldeirão do Huck, transformaram minha mente numa brilhante máquina de pensar, capaz de realizar bilhões de cálculo por milésimo de segundo e de decorar todos os filmes "protagonizados" por Alexandre Frota. Na verdade, só não fiquei em primeiro lugar, pois não foi cobrada nenhuma questão sobre a vida ou obra do ator retromencionado.

Chegado este sonhado momento de glória, meu pequenino coração, outrora amargurado pelo vazio de uma existência inócua, enche-se de vida e gozo, ele regojiza numa batida calma, porém firme. Finalmente é chegado o momento em que assumirei minha posição de direito, quase-Chefe do Executivo Municipal Galhotense.

Como primeira medida, a fim de reforçar o lema da cidade, "A Capital da Roupa Intíma", baixarei uma medida provisória, obrigando todas as mulheres a vestirem nada mais que calcinha e sutiã. Parafraseando Luis XIV, O MUNÍCIPIO SOU EU, e as mulheres que descumprirem esta norma basilar do meu governo, serão forçadas a beber da catinguenta água que corre pelo rio Itajaí-Açu. Sofrerão uma morte lenta e dolorosa pelo consumo da merda "in natura" que tanto há em nosso riozinho. Na verdade, determinarei que o índice de limpeza do rio Itajaí-Açú não mais seja medido na proporção de coliformes fecais por metro cúbico de água, mas sim pela proporção de água por metro cúbico de coliformes fecais.

Pensando bem, quanto a lei de mulheres serem obrigadas a não usar nada além de lingerie, mulheres feias e gordas estão, desde já, escusadas de cumprir mencionada norma. Na verdade, em meu governo, as mulheres feias e gordas do município Galhotense serão todas lançadas ao mar, e sobre o solo onde antes moravam, será jogado sal, para que ali nada mais cresça.

Por fim, o carro chefe de meu governo será restaurar a glória perdida da cidade. Veja que Galhota começou como uma colonia belga, mas de uns tempos pra cá, está mais para colônia paranaense, tamanha a quantidade de galhotenses advindos daquele "estado". Darei um basta a isso! Ônibus trazendo mais migrantes serão recebidos com saraivadas de balas e explosivos de efeito (i)moral. E aqueles paranaenses que não estejam dispostos a servir de mão-de-obra escrava na construção de um túnel que transpassara o Morro do Baú, serão, assim como as mulheres feias, lançados ao mar.

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