quinta-feira, 22 de julho de 2010

Will advocate for sex

Apesar de ocupar cargo público junto ao Paço Municipal de Pequeña Isla, também sou Sócio Vice-Sub-Gerente do Trololó Advogados Inc., um dos mais tradicionais e renomados escritórios de "adevocacia" da cidade de Gaspar. Não me orgulho disso nem me identifico com meus pares, mas o exercício intermitente da advocacia se faz necessário para complementar meus parcos rendimentos.

Hoje mesmo, representando uma odiada empresa de telefonia, fui numa audiência na Corte de Justiça Gasparense, razão pela qual fui obrigado a desenterrar do guarda-roupa minha fantasia de advogado. Destaco a gravata de seda preta, com pequeninas listras brancas em alto-relevo. Só fiquei devendo o topete elaborado, pois, apesar de já ter ostentado uma cabeleira farta no passado, hoje restam poucos foliculos capilares em meu castigado couro cabeludo.

Mas enfim, enquanto eu aguardava o chamado jurisdicional, fiquei ali no corredor do fórum gasparense observando a fauna que circula naquele antro. Que espetáculo lamentável. Muitas vezes fiquei em dúvida se estava num fórum ou num desfile de moda.

Nisso, uma advogada de meia-idade se senta ao meu lado e pergunta: "audiências das 16 horas?"

Com um movimento de cabeça, respondo que sim.

Ela então inicia um monólogo sobre os aspectos legais daquele processo, sob o argumento de que patrocina incontáveis ações daquela natureza e acompanha, avidamente, o posicionamento do STJ sobre o assunto..

"Legal", respondo secamente.

Incapaz de perceber que eu não aprecio o contato com outros seres humanos, ela reinicia seu monólogo "hoje de manhã me ligaram lá da RBS, pedindo para que eu fosse lá dar uma entrevista sobre essa questão (...)"

Quanto a essa última afirmação, eu deveria ter respondido: "nossa, como você é foda, parabéns; se você tivesse um par de bolas, eu as lamberia em culto ao seu brilhantismo jurídico." No entanto, só voltei a assentir com a cabeça.

Graças ao bom deus, no exato instante em que eu já não aguentava mais a verborréia daquela senhora, um estagiário de físico franzino nos chamou à sala de audiências.

Vale ressaltar que essa foi a primeira audiência que fiz sozinho na vida. Surpreendentemente, eis que sou um rapaz ansioso e inseguro, nos momentos que a antecederam, eu estava bem traquilo. Afinal de contas, era só uma daquelas audiências podres de conciliação do Juizado Especial, sendo que a única instrução que eu havia recebido da empresa foi: "não há possibilidade de acordo".

Dai tá, o digitador perguntou se havia possibilidade de acordo; com olhos faiscando de expectativa, a outra advogada olhou pra mim; impassível, respondi que "neste momento processual, não há interesse por parte da empresa em realizar um acordo"; e pronto, acabou a audiência. Toda a necrosada máquina do Judiciário Catarinense foi movimentada para que uma audiência de 3 minutos se desenrolasse; milhares de reais dos contribuintes jogados na privada.

Sem mais, era o que eu tinha a relatar.

Ah, e antes que eu me esqueça, caso algum leitor deste blog necessite buscar socorro junto ao Judiciário Catarinense, desde já me coloco a disposição. Ressalto que topo qualquer aventura jurídica - não dê ouvidos para um advogado que faça afirmações do tipo: "isso não enseja danos morais", pois nenhuma causa é leviana ou frívola demais para o renomado escritório Trololó Advogados Inc. Inclusive, cobrimos qualquer oferta daquele namorado da sua prima que acabou de tirar a carteirinha da OAB. Ligue agora e faça seu orçamento!

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