quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O causo do hotel em Caxias (tomo II)

...Continuação

A mocinha, então, disse que deveríamos dobrar a quadra e que a entrada do hotel seria ao lado de uma lanchonete.

Seguimos as orientações. A quadra era gigantesca, repleta de prédios e estabelecimentos comerciais. Parecia que a rua tinha sido tomada por uma horda bárbara, tamanho o movimento de pessoas na região central de Caxias. Dobramos a quadra e nos deparamos com um gigantesco ponto de ônibus, capaz de proteger os miseráveis usuários do transporte coletivo das mais violentas intempéries - outra coisa que inexiste em Blumenau: pontos de ônibus que ofereçam o mínimo de proteção contra o mau tempo - avistamos um boteco, ladeado por uma entrada inominada.

A entrada dava para uma escada, não possuindo qualquer tipo de placa ou identificação. Considerando-se a singeleza do hotel em que havíamos feito reserva, pensamos que ali poderia ser sua entrada. Tonho, eis que rapaz destemido, conduziu a escalada, chegando ao topo antes que eu, apenas para se deparar com uma porta aberta, que dava para um bar penumbroso, uma luz vermelha, música alta e algumas mulheres em trajes sumários. Antes que eu chegasse ao topo da escada, vi Tonho descendo.

- Isso ai é uma zona - ele me disse - nosso hotel deve ser mais pra frente na rua.

Descemos e avistamos, imediatamente ao lado da entrada da suposta zona, uma portinhola com indicação do nosso "hotel". Lembro-me de, naquela oportunidade, ter achado graça daquilo.

Chegando à recepção do hotel, demos de cara com uma porção de sujeitos mal-encarados. Receosos, nos dirigimos ao balcão, onde fomos atendidos por um rapaz que não devia dormir há umas duas semana, tamanha a extensão de suas olheiras.

Fizemos o check-in. O recepcionista nos deu uma chave e se limitou a dizer:

- Quarto n. 3, primeiro andar.

Não havia elevador, então subimos as escadas. Durante o caminho, demos de cara com mais sujeitos mal-encarados seguindo na direção oposta. Chegando ao primeiro andar, dobramos à direita e seguimos por um longo corredor escuro. Após várias portas, quase no fim do corredor, chegamos ao quarto de n. 3.

Antes mesmo de abrir a porta, notamos que a parte superior do lado direito estava meio que envergada para fora, como se alguém já tivesse a forçado de alguma maneira. Com o mínimo de força, podia-se expandir o vão da parte envergada e entrever o interior do quarto.

Sem saber direito o que pensar daquilo, abrimos a porta. A visão que se descortinou era perturbadora: Os únicos móveis eram uma cama de casal, uma cama de solteiro espremida num canto, um pequeno armário e duas mesinhas repletas de manchas de cigarro. Uma porta de plástico sanfonada era a única coisa que nos separava do banheiro; uma gambiarra no único interruptor tornava bem arriscado o ato de acender e desligar a luz. Atrás da cama de casal havia um gigantesco espelho.

Além disso, não havia janela, o teto e o chão eram de madeira, inexistia qualquer tipo de isolamento acústico e, quando alguém passava pelo corredor ou caminhava no quarto de cima, seus passos eram perfeitamente audíveis, como se estivessem andando dentro de nossas cabeças.

Apesar dos pesares, agora já não havia nada que podia ser feito, o negócio era se assentar ali mesmo e esperar pelo raiar do dia.

Contínua...

Um comentário:

Anônimo disse...

Não vejo a hora de ler as aventuras de vcs no puteiro. Não decepcionem por favor.